Um terço dos brasileiros (29%) já sofreu golpe por telefone, SMS ou WhatsApp em que houve pedido de dinheiro ou promessa de emprego. É o que mostra uma pesquisa do Ipec feita sob encomenda para O GLOBO na série de reportagens Tem Solução. As vítimas mais frequentes dos golpistas são jovens e pessoas com a escolaridade baixa: a proporção de entrevistados com Ensino Fundamental que afirmaram terem sido vítimas de estelionato digital — como especialistas passaram a chamar essa modalidade de golpe — chega a 39%, enquanto a de vítimas de até 24 anos chega a 37%.
Como se trata de uma prática relativamente nova, nem todas as secretarias de segurança contam casos de estelionato digital. No ano passado, com base em dados enviados por 18 estados, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública contabilizou 60.590 casos do tipo. No entanto, para autoridades, o número real de vítimas deve ser bem maior, já que os registros do crime de estelionato, sem especificação, explodiram no país: passaram de 426.799 em 2018 para 1.265.073 em 2021 (aumento de 196%).
— Há uma mudança em curso na dinâmica da violência urbana, sobretudo nos crimes contra o patrimônio. Roubos de celular estão sendo associados a golpes, quando o criminoso usa o aparelho para fazer transferências. Por isso, a insegurança nas cidades também passa a ser relacionada a essas novas modalidades — afirma Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A pesquisa do Ipec também mostra que, nos últimos quatro anos, 14% dos brasileiros foram vítimas de assaltos com armas de fogo. A porcentagem, entretanto, chega a 21% quando os entrevistados são moradores de capitais do país — ou seja, um a cada cinco habitantes das maiores cidades brasileiras já foram vítimas de criminosos armados. A proporção também aumenta entre os moradores da região Nordeste (18%) e também entre os dois extremos da pirâmide de renda: 17% dos entrevistados que ganham até um salário mínimo afirmou ter sido vítima do crime, assim como 18% daqueles com rendimento superior a cinco salários mínimos.
Crimes após pior fase da pandemia
Os roubos caíram no Brasil nos últimos quatro anos, mas algumas modalidades vêm aumentando desde o fim das medidas de distanciamento social impostas pela pandemia. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, roubos de celular, por exemplo, caíram de 560.585 em 2018 para 478.949 em 2020 (15% a menos). Já em 2021, os casos voltaram a subir, para 481.694 (1% a mais). O mesmo movimento de crescimento pós-isolamento social aconteceu com roubos a comércios (crescimento de 7%) e residências (5,4%).
Por outro lado, nos últimos quatro anos, brasileiros passou a se preocupar menos com sua segurança. A pesquisa do Ipec também revela que a porcentagem das pessoas que consideram a violência um dos três problemas mais graves do Brasil despencou: passou de 38% em 2018, segundo pesquisa com a mesma metodologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), para apenas 17% em julho de 2022 — ou seja, caiu mais do que a metade.
Leia aqui os outros temas da série Tem Solução, que investiga os principais problemas do país a partir de dois levantamentos inéditos do Ipec. A primeira pesquisa foi feita de forma presencial com 2 mil eleitores com 16 anos ou mais, entre 1 e 5 de julho em 128 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos. A segunda, feita com 2 mil pessoas na internet com 16 anos ou mais das classes A, B e C, entre 20 e 27 de julho, com margem a mesma margem de erro em um intervalo de confiança de 95%.
Utilize o formulário abaixo para enviar ao amigo.