A criança de 4 anos de idade que morreu vítima de febre maculosa em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, passou por cinco equipes médicas diferentes antes de morrer devido a complicações causadas pela doença.
O diagnóstico de febre maculosa só saiu seis dias depois da morte da criança, que passou por quatro postos de saúde e hospitais de Belo Horizonte e Contagem, antes de ser internado no Hospital João 23, onde faleceu no dia 10 de agosto.
Segundo a nutricionista Natália Fernandes, tia de Enzo Gabriel Lima da Silva e neta de Ana Josefa da Silva, de 73 anos, que também morreu por causa da mesma doença, a criança foi levada duas vezes à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Pampulha, em Belo Horizonte. Nas duas vezes, os parentes teriam relatado que haviam encontrado um carrapato na virilha de Enzo, mas a equipe médica não teria dado importância ao fato.
— No dia 29 de julho achamos o carrapato e levamos ele na UPA. O médico encontrou um pouco de areia no ouvido dele e passou medicamentos para infecção no ouvido. No dia 5 de agosto, ele apresentou febre, vômito e dor no corpo. Voltamos com ele para a UPA Pampulha, falamos novamente do carrapato, mas o médico diagnosticou infecção de garganta.
Um dia depois de voltar à UPA Pampulha, Enzo foi levado para a UPA Ressaca, em Contagem. Natália afirma que, também nesta unidade de saúde, a família comentou aos médicos sobre a presença do carrapato, mas o médico teria diagnosticado uma gastroenterite e receitado antibióticos.
No mesmo dia, a avó de Enzo, Ana Josefa, apresentou confusão mental e também foi levada para a UPA Ressaca. Ela foi levada diretamente para a sala de urgência, com sinais de infecção urinária, desidratação e desnutrição.
Piora e morte
Segundo Natália, Enzo acordou no dia 7 de agosto com muitas dores no corpo e “praticamente sem andar”. Eles decidiram levá-lo para o Hospital Infantil João Paulo 2º, o antigo CGP (Centro Geral de Pediatria), em Belo Horizonte, onde foi internado. A equipe médica decidiu solicitar um exame de sangue para tentar detectar um maior número de doenças.
— Como o resultado do teste ia demorar e o quadro de saúde do Enzo piorou muito rápido, eles receitaram um remédio para tentar matar a maior quantidade de bactérias possíveis.
No dia 8 de agosto, Enzo teve queda nas plaquetas e, no dia seguinte, foi internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Hospital João 23, no centro de Belo Horizonte. Entre os dias 9 e 10 de agosto, Enzo teve duas paradas cardíacas e uma crise convulsiva e faleceu.
No mesmo dia, a avó também teria tido uma convulsão. Com o quadro debilitado, a idosa entrou em coma induzido e foi levada para o Hospital Municipal de Contagem. Natália afirma ter relatado a suspeita de febre maculosa do neto, mas, segundo a nutricionista, a equipe médica também não teria dado importância ao fato.
— O enfermeiro disse que não podia fazer nada e que só poderia falar com o médico após terem 100% de certeza da morte do Enzo.
Natália teria sido informada pela equipe médica que, caso Ana Josefa sobrevivesse, teria lesões no cérebro e, provavelmente, perda de visão. A idosa teve uma parada cardíaca e morreu na noite de 11 de agosto, horas após o enterro de Enzo.
Negligência
A nutricionista Natália Fernandes, neta de Ana Josefa e tia de Enzo, acredita que os familiares foram vítimas da negligência médica das várias equipes que atenderam os pacientes. Ela acredita que a situação poderia ter sido diferente caso os profissionais escutassem o relato dos parentes.
— Se tivesse feito um exame de sangue no meu sobrinho, teria diagnosticado a febre maculosa nele e, talvez, salvo os dois. São tantos ‘talvez’ que a gente nunca vai saber a resposta. Estamos todos sem chão.
A família também relata ter sido tratada com desrespeito por enfermeiros da Upa Ressaca e afirmam ter sido impedidos de acompanharem Ana Josefa durante a internação. Natália afirma que a mãe de Enzo decidiu solicitar todo o relatório médico do filho e da avó, mas ela ainda não sabe se a família pretende entrar na Justiça ou pedir providências em relação ao caso.
Outro lado
Em nota, a Prefeitura de Contagem informou que a área em que a família vive é monitorada, desde 2017, por conta do risco da doença. Desde o dia 13 de agosto, quando teria sido confirmado o caso da doença, a Secretaria de Saúde desenvolveu novas ações, “como a divulgação de Nota Técnica para toda a rede de saúde pública e privada”
Já a Prefeitura de Belo Horizonte alegou, por meio de nota, que a família de Enzo Gabriel, ao procurar a UPA Pampulha alegou que ele estava com dor de ouvido e ele foi medicado. A nota não cita que a família informou aos médicos da unidade de saúde que ele havia sido picado por um carrapato.
Ainda de acordo com o texto, o prontuário médico é sigiloso e já foi enviado à família de Enzo.
Fonte: R7
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