Mais de 218% de aumento no número de casos confirmados em Alagoas no primeiro semestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado; escassez de vacinas na rede privada e baixa procura do público-alvo na rede pública, na capital. Preocupante, esse é o panorama atual da dengue no estado.
Conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), na última Semana Epidemiológica 2024 divulgada, de número 26, foram notificados 14.766 casos suspeitos de dengue, dos quais 8.218 confirmados.
Oito óbitos foram confirmados pela doença nos municípios de Atalaia, Viçosa, Porto de Pedras, Rio Largo, Maceió, União dos Palmares, Murici e Craíbas.
Até agora há o registro de 21 óbitos suspeitos, que estão em investigação em Maceió (5), Arapiraca (2), Teotônio Vilela (1), Boca da Mata (1), Porto de Pedras (1), Porto Calvo (1), Rio Largo (1), União dos Palmares (1), Atalaia (1), Poço das Trincheiras (1), Barra de São Miguel (1), Piaçabuçu (1), São José da Laje (1), Pão de Açúcar (1), São José da Tapera (1) e Porto Real do Colégio (1).
Em termos comparativos, no mesmo período (entre janeiro e junho) de 2023, foram notificados 4.106 casos suspeitos de dengue, dos quais 2.578 foram confirmados, com o registro de um óbito, no município de Maceió.
Isso significa um aumento de 259,62% no número de casos notificados; de 218,77% de casos confirmados; e de 700% no número de mortes.
Apesar dos números preocupantes, pelo menos em Maceió o público-alvo (crianças de 10 a 14 anos) da vacinação contra a dengue não tem comparecido para imunização.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), das 63.640 crianças e adolescentes nessa faixa etária, apenas 6.403 se vacinaram, uma cobertura de apenas 10,9%.
Escassez de vacinas e alto custo
Por outro lado, enquanto “sobram” vacinas na rede pública, a busca pelo imunizante contra a dengue na rede privada tem sido frustrante para muitos moradores de Maceió.
A reportagem entrou em contato com diversas clínicas de vacinação particulares na capital alagoana e foi informada que nenhuma delas possui o imunizante disponível. Algumas clínicas afirmaram estar fazendo pedidos para entrega das vacinas em julho, mas não souberam precisar quando esses pedidos seriam atendidos.
Uma funcionária de uma das clínicas, que pediu para não ser identificada, relatou ao CadaMinuto que, além da escassez das vacinas, o custo elevado tem sido outro obstáculo. Cada dose da vacina contra a dengue custa aproximadamente R$ 500,00, e são necessárias duas doses para completar o esquema vacinal. Segundo ela, mesmo quando as vacinas chegam, a quantidade é insuficiente para atender a demanda. "Houve entregas de apenas duas doses para atender a demanda de toda a clínica", disse a funcionária.
A situação não é diferente nas farmácias de Maceió. O CadaMinuto também realizou uma busca em diversas unidades, mas não encontrou nenhuma que tivesse o imunizante disponível ou que pudesse fornecer uma previsão de chegada.
“A escassez de vacinas contra a dengue em Maceió é preocupante, especialmente considerando o aumento de casos da doença na região. Esperamos que as autoridades de saúde tomem medidas urgentes para ampliar o público-alvo na rede pública e garantir o abastecimento das vacinas na rede privada”, finalizou a funcionária ouvida pela reportagem.
Importância da imunização
Sobre a importância da vacinação contra a dengue, o CadaMinuto conversou também com o médico infectologista Fernando Maia. Ele afirmou que seria interessante que o imunizante pudesse ser aplicado na população toda, já que todo mundo está exposto ao mosquito.
“Mas como no momento a prioridade é para as crianças e os adolescentes, que foram as pessoas que não tiveram dengue pelo sorotipo 3 na epidemia anterior, e com o retorno desse sorotipo agora, depois de quase 20 anos, é exatamente essa população que está mais arriscada, está mais exposta a fazer forma grave. Por isso o Ministério da Saúde optou por iniciar a campanha de vacinação por essa faixa etária, mas a ideia posteriormente é estender para toda a população”.
O especialista pontuou que existem dois tipos de vacina, uma mais antiga e a mais nova, que está sendo usada no país: “A mais nova é bem mais segura e dá uma proteção melhor. Essa vacina consegue dar uma imunidade permanente, imunidade para o resto da vida. Mas infelizmente ainda não é possível vacinar a população toda, porque o laboratório que produz a vacina não tem capacidade de produzir doses suficientes para vacinar a população toda de uma vez”.
Reforçando que, em breve a imunização deve avançar para outras faixas etárias, Fernando Maia concluiu com um alerta: “O maior fator de risco para que alguém tenha a chamada dengue hemorrágica, hoje identificada como dengue com complicações ou dengue grave: é exatamente ter tido um episódio de dengue anterior. Então um segundo ou terceiro episódio de dengue aumenta muito o risco de fazer a forma grave”.
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