Circula no WhatsApp uma mensagem com a informação de que 52 cidades brasileiras não teriam registrado mortes por Covid-19 após adotar tratamento precoce com medicamentos off-label. O conteúdo é falso. Além da lista apresentar erros ortográficos e geográficos, dados mostram registros de mortes nos municípios. A Associação Médica Brasileira (AMB) declarou que a utilização do “Kit Covid” deve ser banida.
A mensagem é direcionada ao prefeito de Niterói, Axel Grael, uma tentativa de convencer de que o tratamento teria gerado bom resultado onde foi utilizado. “Já são 52 cidades com zero casos de morte por vírus chinês, graças a ivermectina e hidroxicloroquina no tratamento precoce. Axel Grael, queremos tratamento precoce nos postos de saúde!”, afirma o texto ao listar os municípios que teriam implantado o tratamento.
Não procede a informação de que os municípios não registraram mais mortes. A maioria registrou mortes em março e abril de 2021, os dados podem ser consultados no site Covid-19 no Brasil , atualizado pelo Ministério da Saúde. A tabela abaixo mostra a quantidade de casos de infectados e mortos por complicações da Covid-19 nas cidades citadas na lista falsa. Os dados estão disponíveis no site O Brasil em dados libertos que reúne 40 voluntários no trabalho de compilar diariamente os boletins epidemiológicos das 27 secretarias estaduais de Saúde.
Taxa de óbitos por Covid-19 nos municípios que supostamente adotaram tratamento precoce
Maior parte das cidades possui taxa de mortalidade superior à média nacional, que é de 159 óbitos por 100 mil habitantes. Toque nas colunas para ver os detalhes.
Não é a primeira mensagem que tenta passar o conteúdo falso. Vários municípios citados na lista também foram mencionados em outra mensagem intitulada como “as 16 cidades que zeraram as mortes por Covid-19 após tratamento precoce”, já desmentida pelo portal G1 . A reportagem mostrou que algumas delas até chegaram a reduzir o número de pacientes hospitalizados no começo do ano, como foi o caso de Búzios, mas a própria Secretaria Municipal de Saúde disse que não realiza tratamento precoce e sim diagnóstico precoce.
As informações têm as mesmas características das inúmeras mensagens falsas que circulam em redes sociais. O texto compartilhado sobre a lista dos municípios, por exemplo, tem um tom alarmista com uma solução, não apresenta fontes e o próprio WhastApp informa que é uma mensagem “encaminhada com frequência” para que o usuário realize uma pesquisa e verifique a veracidade das informações. A lista repete dois municípios e erra ao informar que o município paranaense de Tibagi está localizado em Santa Catarina.
Tratamento não tem eficácia comprovada
O tratamento precoce que a mensagem menciona, conhecido também como kit Covid, seria o uso de alguns remédios, como hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina e azitromicina. No entanto, o tratamento não tem eficácia comprovada e várias entidades já se posicionaram contra o uso dos medicamentos. A Associação Médica Brasileira (AMB) declarou que a utilização dos medicamentos deve ser banida.
“Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, diz a nota divulgada em março deste ano. Confira o pronunciamento completo aqui .
O Conselho Regional de Farmácia também já se pronunciou sobre o assunto e alertou sobre os riscos da automedicação ao citar o exemplo da ivermectina. “A ivermectina é um antiparasitário de baixo potencial de toxicidade desde que ele seja indicado e usado da forma correta, contudo, o que se tem observado é uso indiscriminado deste medicamento e o resultado tem sido hepatite medicamentosa em alguns pacientes”, explica o presidente do CRF/AL, Robert Nicácio. “A prevenção é seguir as medidas sanitárias de distanciamento social, de lavagem das mãos, de uso de álcool gel e de não aglomerar ”, acrescenta.
Alagoas Sem Fake
Com foco no combate à desinformação, a editoria Alagoas Sem Fake verifica, todos os dias, mensagens e conteúdos compartilhados, principalmente em redes sociais, sobre assuntos relacionados ao novo coronavírus em Alagoas. O cidadão poderá enviar mensagens, vídeos ou áudios a serem checados por meio do WhatsApp, no número: (82) 98161-5890. Clique aqui para enviar agora.
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