O dólar fechou o primeiro pregão de maio acima dos R$ 5,07, acompanhando o salto dos rendimentos da dívida americana para os maiores patamares em vários anos nesta segunda-feira (2), antes da reunião de política monetária desta semana do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, além da expectativa de aumento de juros no Brasil.
Depois de chegar a tocar os R$ 5,0881 no pico da sessão, salto de 2,93%, o dólar à vista fechou em alta de 2,58%, a R$ 5,0712 na venda. Essa foi a maior valorização diária desde 22 de abril (+4,07%), data em que foi registrado o aumento mais intenso da moeda americana desde o início da pandemia de Covid-19. A divisa também atingiu o maior patamar para encerramento desde 16 de março passado (R$ 5,0917).
Na B3, às 17h07 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 2,10%, a R$ 5,1230.
Expectativa
O banco central dos Estados Unidos deve elevar os juros básicos em 0,5 ponto percentual ao fim de seu encontro de dois dias, na quarta-feira (4), o que representaria endurecimento de sua postura no combate à inflação. Em março, o Fed subiu os juros pela primeira vez desde 2018, mas em dose mais amena, de 0,25 ponto.
Essa perspectiva de maior agressividade no aperto monetário impulsionou as taxas dos títulos soberanos dos EUA, com o rendimento do Treasury de dez anos, referência global para investimentos, chegando a superar 3% pela primeira vez desde dezembro de 2018.
Isso, por sua vez, alimentava a alta do índice do dólar ante uma cesta de moedas fortes para perto de um pico em 20 anos atingido recentemente, num movimento que, segundo Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, não é isolado nesta sessão, mas vem desde a última semana.
Ao mesmo tempo, moedas de países emergentes tiveram quedas acentuadas nesta segunda-feira, sendo que o rand sul-africano e os pesos chileno e colombiano caíram mais de 1% cada um. Izac afirmou que a desvalorização desse tipo de divisa reflete, além dos receios sobre o Fed, temores de uma desaceleração econômica na China, que poderia minar a atividade no resto do mundo.
Juros no Brasil
Além do Fed, investidores aguardam a reunião de política monetária do Banco Central do Brasil, que acaba na quarta-feira. Um aumento de um ponto percentual na Selic, a 12,75%, é aposta consensual nos mercados, mas ainda há dúvidas sobre quais serão os próximos passos sinalizados pela autarquia no comunicado.
"Dado o cenário de inflação atual e prospectivo muito desafiador, deterioração adicional das expectativas de inflação (particularmente para o final de 2023), intensas pressões inflacionárias de custo e perspectiva estrutural de alta das commodities, esperamos que o Copom deixe a porta aberta para outra alta menor da Selic na reunião de junho", disse o Goldman Sachs em relatório, sem especificar qual poderia ser a magnitude desse aperto.
No mais recente boletim semanal Focus, a expectativa era que a Selic chegasse a 13,25% até o fim deste ano.
As indicações do Copom sobre os rumos da Selic podem ter impacto significativo no preço do dólar, já que o nível dos juros afeta diretamente a atratividade da renda fixa doméstica. No período de janeiro a março deste ano, por exemplo, a perspectiva de custos de empréstimos cada vez mais altos, que tenderiam a atrair recursos para o mercado de dívida brasileiro, derrubou a moeda americana em 14,5%, seu pior desempenho trimestral ante o real desde meados de 2009.
O dólar recuperou-se 3,8% em abril, no entanto, com a disparada internacional da divisa em meio às apostas crescentes num Fed mais agressivo parecendo ofuscar a Selic elevada.
Segundo Izac, parece haver um "contraste" nas expectativas do mercado em relação aos próximos passos dos bancos centrais de Brasil e EUA, o que está jogando a favor do dólar: "O Fed está aparentando estar disposto a subir os juros além do que o mercado espera; já nosso BC parece tender a seguir o consenso do mercado".
Mesmo assim, disse Izac, "ainda existe uma tendência de dólar fraco (contra o real) neste ano", que pode ser reforçada caso o BC seja forçado a ser mais agressivo que o previsto na elevação da Selic ou se a situação sanitária da China, onde surtos de Covid-19 têm alimentado receios de recessão, se resolver rapidamente.
Apesar da recuperação vista em abril, o dólar ainda acumula queda de 9% no ano ante o real, que segue ostentando a posição de melhor performance global no período. Mesmo assim, a moeda está 10% acima da mínima de encerramento de 2022, de 4,6075 reais, atingida no dia 4 de abril.
Fonte: R7
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