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24/10/2022 06:29
Economia

Especialistas alertam sobre os riscos que envolvem o Pix parcelado

Sistema de pagamento oferecido por bancos e fintechs que ainda não foi regulamentado pelo Banco Central
/ Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Correio Braziliense

A oferta do Pix parcelado virou uma febre entre instituições financeiras nos últimos meses, mas é preciso ficar atento para a compra acabar não saindo mais cara. Diferentemente do Pix convencional, que é gratuito para pessoas físicas, o Pix parcelado é uma linha de crédito que pode ser concedida de duas formas: com o cartão de crédito ou por uma linha de crédito sem relação com o cartão.

A diferença entre eles é que, no Pix com cartão, o consumidor usa parte do limite disponível para fazer o parcelamento via Pix. Já o parcelamento sem o cartão é semelhante a um empréstimo pessoal. Nos dois casos, há cobrança de juros.

O Pix parcelado não é um meio de pagamento oficial do Banco Central, mas o que as empresas fizeram foi antecipar um plano do BC. Está na agenda do órgão oferecer um mecanismo de parcelamento de compras com o Pix, chamado de Pix Garantido. "Ao final do ano, o Banco Central divulgará a agenda de desenvolvimento para 2023. Nada impede que os bancos, desde já, ofertem crédito aos seus clientes para utilização em pagamentos via Pix. É um produto de cada banco", informou o BC, em nota.

Segundo o CEO da MIT Technology Review Brasil e coordenador do MBA de Marketing e Negócios Digitais da Fundação Getulio Vargas, André Miceli, o objetivo é injetar mais crédito no mercado. "Essa modalidade está atrelada aos produtos que os bancos oferecem aos clientes. Cada um vai ter uma característica, mas é, de certa maneira, algo análogo ao que a gente encontra num cartão de crédito ou mesmo numa modalidade de boleto parcelada", explica.

Apesar de parecer muito vantajoso, por dar ao comprador a sensação de maior poder aquisitivo, há risco grande de descontrole financeiro. "O perigo é entrar numa ciranda de juros e ficar inadimplente. O usuário do Pix parcelado pode não se dar conta dos juros que estão embutidos na compra, e, além disso, se não conseguir honrar com os pagamentos nas datas corretas, pode encarar juros ainda maiores", diz Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação.

Gatilho

A modalidade de pagamento pode ser um gatilho para a inadimplência de quem não costuma ter organização financeira. Quatro em cada 10 brasileiros adultos (39,71%) estavam negativados em setembro, o equivalente a 64,25 milhões de pessoas. Segundo os dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), este é o novo recorde da série histórica do levantamento, realizado há oito

No Pix parcelado sem cartão, a data de vencimento das parcelas pode começar a contar a partir da data da compra. Se uma pessoa fizer várias compras ao longo do mês, é preciso garantir que terá dinheiro em conta quando essas parcelas vencerem, em diferentes dias. "O uso descontrolado dessa ferramenta pode virar uma bola de neve e, como os Pix parcelados são independentes entre si, as cobranças de parcelas podem ter datas variadas e colocar o consumidor em modalidades de crédito ainda mais caras, como o cheque especial", alerta o educador financeiro Thiago Martello.

Mesmo com os riscos, especialistas afirmam que o Pix parcelado pode valer a penas quando o desconto oferecido for maior do que os juros da operação. Por exemplo, se a taxa de juros para parcelar as compras com Pix for de 3% ao mês, o desconto na compra precisa ser maior do que 3%. Outra situação em que o Pix parcelado pode não ser exatamente vantajoso, mas útil, é em uma emergência. Para quem não tem dinheiro em conta e nem acesso a cartão de crédito, usar o Pix parcelado para pagar algum conserto ou gasto médico, por exemplo, pode ser um alívio no orçamento.

Na maioria das vezes, a opção de parcelamento do Pix é oferecida para compras on-line. Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), para os varejistas, o Pix tem potencial de reduzir e até substituir o boleto, além de aumentar o número de vendas no comércio eletrônico.

Além dos bancos tradicionais, há um número crescente de empresas pequenas de soluções financeiras ofertando essa modalidade de pagamento. Muitas prometem a liberação do crédito sem análise cadastral, por isso é preciso ler as entrelinhas para entender todas as condições. "Se alguém oferece crédito sem consulta cadastral, assume um risco que terá que ser compensado na forma de juros. E, vai cobrar muito caro por isso", adverte Arthur Igreja.

Para Davi Ramos, CEO e Sócio-Fundador da Vante Invest, a orientação para não ser enganado, além de buscar o histórico da empresa, é desconfiar de preços muito baixos. "Não existe almoço grátis, então, a primeira coisa é não acreditar em Papai Noel. Ou, quando a esmola é demais, o santo tem que desconfiar. Além disso, a orientação é fazer a compra em sites já conhecidos e, assim, evitar aborrecimentos. Agora, se tem uma proposta razoável, que faz sentido, este é o primeiro ponto", diz Ramos.

 

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